Para compreender parcialmente a questão da Líbia, faz-se necessária uma visita ao passado. A verdade sobre Kadafi é que logo depois da revolução que derrubou a monarquia, Kadafi, associado a outros governantes árabes, estabeleceu uma linha de contestação com os norte-americanos que apoiavam Israel. Como, naquela oportunidade havia a Guerra Fria, estabeleceu-se um alinhamento da Líbia com os soviéticos. Aos poucos, no entanto, principalmente depois da queda da URSS, os demais países árabes foram deixando de se opor fortemente aos EUA, mas Kadafi continuou com a sua feroz oposição. A derrubada do jato de passageiros em Lockerbie, por terroristas líbios, foi a oportunidade que o ocidente precisava para "pegar" Kadafi. Assim, através da ONU, foram votadas pesadas sansões à Libia, que passou a sofrer as consequências disso. Espertamente, Kadafi procurou se acertar com os países ocidentais, entregou os terroristas e se colocou numa posição "amigável" com o ocidente. É isso que alguns analistas não querem compreender ao dizer que o governante líbio traiu suas antigas convicções. Em vez de verem o que realmente ocorreu, ou seja, uma jogada estratégica de Kadafi para conseguir continuar governando a Líbia, viram uma rendição à comunidade internacional e uma traição às suas antigas posições. É claro que esses "analistas" nem imaginam o jogo pesado que se joga na arena internacional. Ignoram as pressões que se abatem sobre um governante "não alinhado"com o sistema de poder global liderado pelos EUA. Pois bem, essas pressões determinaram a mudança de postura "estratégica" de Kadafi, que os nossos analistas erroneamente interpretam como uma rendição ao ocidente. A diferença é clara, Kadafi é do tempo de Gamal Abdel Nasser e de outros líderes nacionalístas árabes a favor do pan-arabismo e da libertação da Palestina do jugo israelense. Eram também do tempo da Guerra Fria e, com isso poderiam desancar aos EUA quando bem entendessem, porque estavam cobertos pela URSS. Depois do fim desse regime, tudo mudou. Esses outros ditadores passaram naturalmente ao lado do Tio Sam. O único que sobrou dos tempos de Guerra Fria foi o velho beduíno da tendas Kadafi. Essa é a diferença. A oposição fundamentalista é muito forte dentro da Líbia desde 1993, quando Kadadi cortou relações diplomáticas com o Irã devido ao apoio deste governo a grupos extremistas líbios. Em 1997, 15 agentes fundamentalistas foram condenados e fuzilados por infiltração nos quadros do exército e por espionagem .
Vale lembrar que Kadafi liberalizou os costumes do islã na Líbia, tornou-os facultativos, permitindo assim maior liberdade de ação e uma nova dinâmica social de convívio para as pessoas, sobretudo às mulheres, presas à burca e outros atrasos carcerários dos preceitos islâmicos. Não é de hoje que os fundamentalistas religiosos tramam para a derrubada do regime não e, o que parece mais evidente, tendo em vista o passado histórico, é de que se aproveitaram do momento de extrema tensão política e revoltas em outros países árabes para darem uma conotação, uma fachada democrática às suas ações, como se estivessem lutando contra uma ditadura opressiva de um tirano sanguinário, o que é absolutamente falso. Os números e estatísticas oficiais estão aí para provar o contrário. Do site do jornal Pravda, da Rússia: “Kadafi liderou uma revolução para derrubar o rei Ídris, um fantoche dos interesses italianos e norte-americanos na região. Na época, a maior base militar dos Estados Unidos no exterior estava na Líbia, e Kadafi e seus partidários cercaram a base e deram prazo de 24 horas para todos os estrangeiros invasores deixarem o país. Um fato que a mídia não consegue falsificar – nem mostra, na realidade - é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) aferido por técnicos das Nações Unidas. Esses dados apontam, por exemplo, que a Líbia tinha, em 1970, uma situação pouco pior que a do Brasil (IDH de 0,541, contra 0,551 do brasileiro). O índice líbio superou o brasileiro anos depois e, em 2008, estava bem à frente: 0,810 (43º no ranking), contra 0,764 (59º no ranking). Todos os três sub-índices que compõem o IDH são maiores no país africano: renda, longevidade e educação. No IDH reformulado a diferença se mantém. A Líbia é a 53ª no ranking (0,755) e o Brasil, 73º (0,699). A Líbia é o país com melhor IDH da África. Portanto, tem a melhor distribuição de renda, tem saúde e educação pública gratuitas. E quase 10% dos estudantes líbios recebem bolsas para estudar em países estrangeiros. Que ditadura é esta? Uma ditadura jamais permitiria esse tipo de política em benefício do povo. Os programas sociais do Coronel Muammar Gathafi na Líbia são muito maiores do que os aplicados nos países vizinhos. Infra-estruturas modernas surgiram nos últimos anos que visam atrair investimento e trazer riqueza acrescentada e desenvolvimento sustentável para os cidadãos da Líbia; o programa Gathafi de alfabetização forneceu a educação universal gratuita e desde que ele assumiu o poder em 1969, a expectativa de vida dos cidadãos da Líbia aumentou 20 anos, enquanto a mortalidade infantil diminuiu drasticamente.Gathafi representa o controle dos recursos da Líbia por líbios e para líbios. Quando ele chegou ao poder dez por cento da população sabia ler e escrever. Hoje, é cerca de 90 por cento a taxa de alfabetização. As mulheres, hoje, têm direitos e podem ir à escola e conseguir um emprego. A qualidade de vida é de cerca de 100 vezes maior do que existia sob o domínio do rei Idris I”.
O líder da Revolução Líbia de 1969, Coronel Muamar Kadafi
Todo aquele que não segue a cartilha neoliberal é considerado ditador. Isso é papo da mídia que, infelizmente, faz a cabeça de muita gente. Qual maior ditadura do que nos EUA, onde quem não tem plano de saúde, por não poder pagar, é despejado dos hospitais e colocado na rua? Essa conversa de "ditador" é/acaba sendo um discurso ideológico, no qual as pessoas embarcam direto. Kadafi comandou uma revolução que retirou o país do atraso monárquico e do alinhamento com os EUA. Isso provocou o ódio desse país que, inclusive, durante o governo do boçal e fascista Ronald Reagan, atacou militarmente Kadafi, bombardeando de forma arbitrária a capital Trípoli e o palácio do governo, matando sua filha adotiva e por pouco não dizimando toda sua família. Politicamente, Kadafi é tão ditador quanto os governantes da Arábia Saudita, Iêmen e de todo o resto do mundo árabe. Só está sendo pressionado agora, ao contrário dos outros ditadores, porque a direita norte-americana, aliada a direita israelense, quer punir Kadafi pelo passado e, é claro, por ter perdido um lacaio estratégico, Hosni Mubarack, realmente deposto pelo POVO. Se eles fossem realmente contra as ditaduras, estariam fazendo carga também contra os outros ditadores do mundo árabe. Se eles fossem a favor dos direitos humanos, levariam ao Tribunal Penal Internacional os governantes eugênicos do Sudão - aliados dos norte-americanos -, país que faz fronteira com a Líbia, onde atualmente ocorre o maior genocídio de minorias étnicas desde o Holocausto, em Darfur, onde cerca de 400 mil pessoas já foram mortas. Quais sanções serão impostas pelo Conselho de Segurança, ou qual pena será direcionado aos que mataram mais de um milhão de civis no Iraque e aos que todos os dias assassinam homens, mulheres e crianças no Afeganistão, onde nos últimos dias a população se lançou às ruas, inflamada, para protestar contra a matança de crianças inocentes? Por que não investigam Ariel Sharon, Ehud Olmert, Benjamin Netaniahu e outros governantes sionistas, responsáveis pela matança de palestinos na Faixa de Gaza? O contexto histórico permite que separemos as coisas e vejamos como elas são na realidade. É preciso levar em conta o contexto internacional, que sempre influiu na região, tendo em vista o petróleo. Como disse, para os EUA ao menos isso é questão pessoal. Mais do que ninguém o pessoalzinho da Casa Branca entra presidente sai presidente segue a risca aquela frasesinha de Robert Kennedy "perdoe seus inimigos mas nunca esqueça o nome deles". Por mais que Kadafi tenha "aberto as pernas" para o capital estrangeiro ultimamente como alguns afirmam, jamais perdoarão o beduíno das tendas por um dia ter batido de frente e enfrentado o Império. Encontraram a oportunidade perfeita de cobrar o atraso por tanta insolência e promovem uma campanha midiático-golpista para trucidá-lo, com juros. A diferença entre essas revoltas é que que o tom das manifestações na maioria desses outros países foram pacificos, na Líbia estão ocorrendo confrontos armados entre pró-Kadafi e opositores Pergunto-me: onde esses rebeldes conseguiram armas? Foram financiados por quem? Kadafi é inimigo moral de Osama Bin Laden e da Al-Qaeda. Quanto aos apoiadores, todos sabemos quem é o líder; e quanto aos opositores, a quem eles irão entregar o poder se acaso vencerem? Há alguns dias saiu uma notícia dando conta de que os rebeldes achavam “tarde demais para tentar uma mediação pacífica com Kadafi”. Coisa engraçada, não?! Reclamam tanto do "banho de sangue", mas quando é proposta uma via pacífica de resolução... "não, obrigado. não queremos"... Isso tudo é medo de que, uma vez pacificada a situação e eleições convocadas, por exemplo, a situação de Kadafi vença por larga margem de votos, como afirmou seu filho em entrevista à BBC? Respeitaria estes rebeldes no momento em que afirmassem: "Não queremos mediação internacional porque queremos derrubar Kadafi na bala não importando o número de vitimados. O nosso sangue é o preço que pagamos pela nossa cota de sacrifício em nome da liberdade pela qual estamos lutando". Agora, esse discursinho hipócrita aí? Uma hora adotam uma posição do tipo "somos pacifistas que condenamos o banho de sangue promovido pelo ditador contra nós, civis inocentes desarmados, queremos que cessem as ações contra os insurgentes", mas quando lhes é oferecida uma saída para o fim da carnificina deles mesmos, "não, não queremos essa mediação pacífica... tarde demais". Discursinho mais conveniente e volátil esse, não?
A situação dos rebeldes é desesperadora (algo meio contraditóro para quem conta com imenso “apoio popular”, diga-se), imploram por uma invasão estrangeira da OTAN em território líbio (algo não muito pacífico para quem se diz preocupado com o “derramamento de sangue" dos "inocentes"), as tropas do exército líbio (majoritariamente fieis ao Coronel Kadafi, diferentemente do que a mídia tenta passar) retomaram cerca de 90% do território que estava em mãos opositoras, e, neste momento, marcham rumo a Benghazi, a “capital rebelde”, vórtice da revolta e, “coincidentemente”, maior reduto de produção de petróleo do país. Civis morreram nas ações do exército? Sim. A questão é: os bombardeios aéreos foram e são direcionados a fim de anular rebeldes armados que lutam contra o governo em uma situação, repito, de guerra civil, ou matar a granel e gratuitamente a população civil desarmada que nada tem a ver com a história? O Ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, em sua intervenção de 1º de março, ante os ministros das Relações Exteriores reunidos em Genebra, afirmou: "A consciência humana repudia a morte de pessoas inocentes em qualquer circunstância e lugar. Cuba compartilha plenamente a preocupação mundial pelas perdas de vidas civis na Líbia e deseja que seu povo alcance uma solução pacífica e soberana à guerra civil que ocorre ali, sem nenhuma ingerência estrangeira, e que garanta a integridade dessa nação". Alguns dos parágrafos finais de sua intervenção foram lapidares: "Se o direito humano essencial é o direito à vida, o Conselho estará pronto para suspender a filiação dos Estados Unidos caso iniciem uma guerra? Serão suspensos os Estados que financiam a fornecem ajuda militar empregada pelo Estado receptor em violações massivas, flagrantes e sistemáticas dos direitos humanos e em ataques contra a população civil, como as que ocorrem na Palestina? O Conselho aplicará essa medida contra países poderosos que realizem execuções extrajudiciais no território de outros Estados, com o emprego de alta tecnologia, como munições inteligentes ou aviões não tripulados? Que acontecerá com os Estados que aceitam nos seus territórios a existência de prisões ilegais secretas, que facilitem o trânsito de voos secretos com pessoas sequestradas ou participem de atos de tortura?"... Ainda do portal Pravda: “Os grandes jornais e canais de televisão do Brasil utilizam agências de notícias norte-americanas, todas tendenciosas, mentirosas, enganadoras. As mentiras que as agências de notícias vendem são compradas pela opinião pública brasileira, e a maioria das pessoas por ingenuidade ou desinformação se comporta como marionetes, repetindo aquilo que o governo dos Estados Unidos impõe e determina”.
Só acredita no embuste quem quer. Quem sai por aí falando do que não sabe embusteiro também é!
Links úteis:
Kadafi é um benfeitor da humanidade
http://port.pravda.ru/mundo/04-03-2011/31347-kadafi_benfeitor-0/
Líbia: Toda a verdade
http://port.pravda.ru/russa/26-02-2011/31317-libia_russia-0/
Líbia: Terroristas anti-Gadadi massacraram civis
http://port.pravda.ru/mundo/15-03-2011/31379-libia_massacre-0/
Líbia: o que a mídia esconde
A Líbia e o imperialismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário